domingo, 6 de janeiro de 2013

Pai de Salvador

 Crónicas ocasionais da Xicolândia

O caso mais popular, mais longo e mais pendente de sempre é o caso pai do salvador. Este caso surge há mais de dois mil anos, numa pequena aldeia (uma tal de nazaré) que se situava junto ao mar (um tal de morto), ali para os lados das arábias onde vivia uma bela jovem (uma tal de maria) ainda “virgem” (de agosto ou setembro). 
Um dia, a jovem (a tal “virgem”) teve um sonho. Sonhou que um príncipe das arábias (um tal desconhecido) lhe entrou pela porta (e não só), levou-a ao tapete, percorreu a terra, subiu montanhas, flutuou nas nuvens, chegou ao céu, viu as estrelas, acabou na cama e desapareceu pela janela. O sonho foi tão real que mesmo depois de a maria (a tal que era “virgem”) acordar, ainda continuou a sonhar com o príncipe desconhecido (o tal das arábias) aquele que lhe entrou pelas portas, levou-a a conhecer mundos e esfumou-se pela janela. Depois deste sonho a jovem maria (a tal que já não é “virgem”) nunca mais foi a mesma. O olhar vazio e distante, o físico presente mas de pensamento ausente, o corpo sempre a mudar e passado o ciclo que terminava no período de tempo, não chegou, estava grávida!
 É precisamente aqui que este caso começa. A jovem virgem (a tal maria) vivia em união de facto com um velho marceneiro (um tal de zé), que por acaso tinha desarranjado a “ferramenta” num biscate.
Como naquela altura (tal como hoje ainda), o pecado de adultério era um “caso” punido com apedrejamento até à morte. A “virgem” maria (a tal jovem) engendrou logo um estratagema de forma a resolver este seu triste “caso”.
 Regular frequentadora do templo sagrado, um dia em que reflectia sobre o seu triste caso foi atingida por um raio de luz divina e teve uma visão (uma tal ideia). Tentar a via mais fácil, fazer com que a “ferramenta” desarranjada do velho zé (o tal marceneiro) funcionasse pelo menos mais uma vez. Nesse mesmo dia à noite resolve pôr em prática a sua grande ideia (a tal visão). Apagou todas as luzes da casa e deitou-se completamente pelada na cama à espera do velho marceneiro (o tal zé) que tinha ido beber um copo com os amigos. O zé velho (o tal marceneiro), já com a vista “cansada”, deitou-se na cama e nem se apercebeu que a mulher (a tal que já foi virgem) estava completamente descascada, virou-se para o outro lado e adormeceu. Para grande frustração da mulher (a tal maria) que passou o resto da noite em claro.
Na noite do dia seguinte tenta uma nova abordagem. Desta feita, acendeu velas por toda a casa e deitou-se nuazinha só com um véu, à espera do regresso dos copos do marceneiro (o tal velho). Acontece que nessa noite, ele (o tal marceneiro) bebeu um copito a mais. Quando entrou em casa ficou tão ofuscado pelas luzes que ficou completamente “cego”. A mulher (a tal nuazinha só com um véu) aproveitou o desnorteamento do velho (o tal da ferramenta desarranjada). Conta-lhe, que teve uma visão em que lhe apareceu uma figura em forma de anjo, com asas de “borboleta”, e lhe disse que ela tinha sido “eleita” pelos “deuses” para ser mãe do “salvador” do mundo e que estava grávida. Também, tinham que deixar a sua terra e partir para outras paragens porque inimigos poderosos iam fazer de tudo para evitar a nascença do “salvador”. A maria (a tal que agora já é senhora) foi tão convincente que o zé marceneiro (o tal com um copito a mais) acreditou.
E assim de “burro”, passou a andar de lado para lado com a senhora (a tal que já não era “virgem”), sem se aperceber que era só para encobrir a gravidez. Entretanto, o tempo foi passando e quando chegou a hora da maria (a tal senhora) dar à luz, fez-se luz e nasceu o “salvador”. Precisamente numa noite em que um cometa (um tal de halley) brilhava mais do que nunca nas suas muitas viagens à volta da terra. Logo visto como um sinal dos “deuses” para iluminar o nascimento do “salvador” e tornar credível a gravidez da senhora maria (a tal grávida) perante o velho zé (o tal carpinteiro). Ainda mais credível ficou quando três “lunáticos” (um tal de belchior) (um tal de baltazar) e (um tal de gaspar) que já há alguns dias perseguiam o radioso rasto deixado pelo halley (o tal cometa). Pararam para descansar no mesmo local (um tal estábulo) onde a senhora (a tal maria) tinha acabado de dar à luz (o tal “salvador”). Eles próprios vivificaram que um nascimento naquelas condições era digno de “deuses” e presentearam-no com o que levavam nos bolsos, ouro, incenso e mirra. E “caso” encerrado!
Segundo a teoria de algumas vizinhas mais “cuscas” (tal como na canção), pensa-se que o pai da criança foi “obra” do patrão a dias da senhora (um tal de judas). Só que a mulher do patrão (uma tal de judite) era muito ciumenta pois sabia bem o traidor (o tal de judas) que tinha em casa, por isso, não tirava olho da senhora (a tal “virgem”), não lhe dando qualquer hipótese de aproximação ou de estar a sós com o judas (o tal traidor). Por isso o “caso” não morreu à nascença e ficou pendente.
Este “caso” só voltou à “baila” porque já espigadote, o “salvador” capta uma discussão da senhora com o velho marceneiro e apercebe-se que afinal, aquele que ele considerava ser seu pai, não o era na verdade. Parte de imediato para o deserto onde durante quarenta dias e quarenta noites medita sobre a sua situação até que encontra uma solução! A partir desse momento decide dedicar toda a sua vida, na busca da verdade. Quem é o “pai”!
O tempo foi passando e o “salvador” já entrado nos intas depois de muitos anos a penar na busca do pai, começou a dar sinais de demência. Um dia, entrou eufórico numa cidade (uma tal de jerusalém) a proclamar que era o novo rei. O verdadeiro rei (um tal de herodes) sempre com problemas conjugais com a sua rainha muito ciumenta (uma tal de Salomé) e que jurou se ele (o tal herodes) algum dia lhe fosse infiel, ela mesmo lhe cortava a cabeça e a punha numa bandeja. Mandou-o logo internar numa clínica psiquiátrica (uma tal de calvário) onde foi sujeito a um tratamento de choque inovador, descoberto por um técnico especializado (um tal de pilatos). O tratamento de choque consistia em cruxificar o paciente numa cruz de cabeça para baixo, durante tempo indeterminado, na esperança que o sangue fluísse melhor em direção ao cérebro e avivasse as ideias do paciente. O tratamento (o tal de choque) foi tão eficaz que ao fim de três dias, o “salvador” estava completamente curado e reabilitado. O facto levou inúmeros curiosos até à clinica, inclusive um grande amigo do “salvador” (um tal de tomé) que foi ver para crer.
 Também, foi a última vez que o “salvador” foi visto. Depois desse dia nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima. Há quem diga que teve um caso com uma mulher da “ vida” (uma tal de madalena) por quem se perdeu de amores. Fugiu com ela para um paraíso (um tal de eden) e por lá viveu em paz e amor, a comer maçãs e a mulher da vida (a tal madalena). Até que um dia, ela entalou-se com um bocado de maçã, o “salvador” quando a viu aflita, aproximou-se por trás numa tentativa de lhe aplicar uma manobra (uma tal de heimlich), mas, calcou uma cobra venenosa (uma tal de piton) que o mordeu e ele (o tal salvador) e ela (a tal madalena) foram desta para melhor.
A história de vida do “salvador” foi tão comovente, que um “primo” abastado da maria (um tal de pedro) mandou erigir um grande templo em memória do “salvador”, e ele próprio, auto proclamou-se o primeiro “pápá” oficial do “salvador”.
E este triste “caso” ficou na “gaveta” por mais de mil anos. Até que alguém, ali na média idade começou novamente a investigar e encontrou novas provas e um novo “pápá” para o “salvador”. Ao que parece, era um banqueiro (um tal de espirito santo) que tinha emprestado dinheiro ao velho marceneiro para arranjar a “ferramenta”, mas a senhora é que pagava os “juros”. O “caso” só não foi encerrado porque uma investigação mais profunda, deixou a descoberto o espirito do santo (o tal banqueiro) que de santo espirito nada tinha, era dado a “eles” e não a “elas”. Afinal quem “pagava” os juros era mesmo o zé (o tal marceneiro). E o caso voltou novamente para a gaveta.
Já mais recentemente em pleno seculo vinte, a gaveta voltou a ser aberta e o “caso” quem é o pai do “salvador”, voltou à ribalta como das outras vezes em que apareceram novas provas. Desta feita por uma outra “senhora” (uma tal de fatima) também “virgem” (de maio). Esta outra “senhora” vivia em peregrinação (sempre de lado para lado). Um dia, muito debilitada quase a desfalecer, cansada de tanto andar de lado para lado, foi socorrida por três crianças (um tal de chico), (uma tal de jacinta) e (uma tal de lucia) que lhe deram água e pão com que restabeleceu as forças. Muito comovida a senhora (a tal “virgem” de maio) e como forma de agradecimento, confidenciou aos ouvidos das três crianças um grande segredo, que tinha ouvido de uma tia-avó francesa, uma eremita que vivia numa gruta (uma tal de Bernardete), que por sua vez o tinha ouvido da sua própria tia-bisavó, que também o tinha ouvido da sua tia-tetravó, que por sua vez também tinha ouvido da sua…, quem era o verdadeiro pai do “salvador”.
Ao que parece a jovem maria (a tal “virgem”), era abusada sexualmente pelo seu próprio pai… (um tal de natal). Um velho alquimista de longas barbas brancas, toxicodependente, snifava coca e cola. A sua grande “moca” era misturar as duas (a coca com a cola) e beber. Gostava muito de criancinhas que aliciava com a bebida (a tal coca com cola) e prendinhas. Quando viu o “caso” mal parado, resolveu pôr-se na “alheta”, fugiu para uma terra longínqua (uma tal de lapónia) ali para os lados do polo norte. Aí, dedicou-se à criação de renas, abriu uma empresa de transporte de trenós e começou a distribuir a tal bebida (a coca com cola) por todo mundo. O negócio foi tão rendoso que em pouco tempo amealhou dinheiro para realizar um sonho de criança, construir o maior parque temático de diversões para criancinhas, do mundo (um tal de natalândia). Ainda hoje há quem acredite que o velho de barbas brancas (o tal natal) pelo menos uma vez por ano ande por aí de trenó, a “oferecer” coca com cola (a tal bebida) e prendinhas às criancinhas.
E o “caso” só não fica desde já encerrado porque, diz-se já por aí que existe uma prova fundamental para o encerramento do “caso”, só precisa de ser encontrada. Um cálice “santo” (um tal de graal)! 
Segundo se consta transformava água em vinho, pelo qual o verdadeiro pai do “salvador” (o tal que ninguém conhece) bebia nas suas muitas ceias. Foi precisamente na última ceia que o cálice que era santo (o tal graal) desapareceu. Parece que foi roubado por um ladraozeco alcoólico (um tal de baco) e pelo seu primo também alcoólico (um tal de dionísio), que por sua vez o venderam a um mafioso do submundo do crime (um tal de diabo). Um pecador de primeira, ligado à prostituição, ao jogo ilegal e controlava todo o trafico lá da zona. Ora matava alguém ali, ora começava uma guerra acolá um autêntico demónio. Acabou por enterrar o cálice (o tal graal) que era santo, nas profundezas do seu esconderijo preferido (um tal de inferno), local onde ninguém ousou até hoje entrar.
Com a descoberta do graal (o tal cálice) o caso podia finalmente ser encerrado, bastava para isso uma pequena amostra de adn (um tal de ácido desoxirribonucleico), fazer um teste de confirmação paternal e assim ficar este triste caso encerrado de vez.
 Enquanto isso não acontece o caso continua pendente.

Este caso é pura ficção em todo o caso qualquer semelhança com um caso real é mero acaso.
 

Xico Mao