Vem a propósito depois dos acontecimentos políticos de hoje, esta crónica do livro: "Crónica dos dias bons" de Mário Anacleto.
"O assassinato de Sócrates"
"Correm boatos insistentes de epidemia mental pela cidade. A confusão é geral, sobretudo entre os "sanguessugas"e os esbanjadores de sonhos e de esperanças fátuas. Anda por ali coisa reles pela certa. À boca pequena debatem-se os partidários de uns e de outros, enclausurados na presunção de tudo saberem e de tudo poderem conduzir, na vida, na política, na cidade e no Estado. Discute-se o vício e a virtude, a ignorância e o conhecimento, isto é, a melhor forma de governar a cidade, sabendo, procurando ou não procurando os melhores processos, os melhores caminhos para a resolução dos problemas. Discutem a educação: " A forma de educação exortativa dificilmente é proveitosa." A educação só actuará com a participação do educando. É essencial levar o educando à consciência que nada sabe e, partindo de tal consciência, deverá, em princípio, pedir que o instruam, dado que reconhece a sua ignorância... o próprio Sócrates diz à boca plena que "os homens de Estado não têm consciência de que ignoram tudo aquilo que devem saber". Perante tanta injustiça e desacreditação da honestidade e da honra de uma palavra séria define o juiz como "aquele que ouve com cortesia, responde sabiamente, pondera prudentemente e decide imparcialmente." Aos olhos de hoje, isto já era!"
continua…