Outono de Cores Mao
"A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. |
Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo nos meus pensamentos. |
Tudo em mim é de um príncipe de cromo colado no álbum velho de uma criancinha que morreu sempre há muito tempo. |
Amar-me é ter pena de mim. |
Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino. |
Deus é o existirmos e isto não ser tudo. |
Um frio desassossegado põe mãos gélidas em torno ao meu pobre coração. |
Em cada pingo de chuva a minha vida falhada chora na natureza. Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra." |
"Fernando Pessoa in O Livro do Desassossego"
Maofotos - Paramos 2017