segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Memórias de Durienses

Memórias do Douro

"Nas horas primeiras da vida, os montes viveram calados de desejo,
sem vales nem gargantas,
nem outras misérias tantas,
colados como os lábios de uma virgem que se abrem ao primeiro beijo.

O rio é o mosto escorrido das correntes impetuosas das montanhas,
do nevão branco do Inverno,
dos acirrados ventos do inferno,
onde se dizia haver tanto ranger de dentes e fogo nas entranhas.

O tempo moldou a selva feita de penugem, árvores, frutos e flores,
sempre das mais variadas,
nos cabeços, nas latadas
que se enfeitam para acompanhar os vinhos de pequeninos a licores.

Meu pai tinha uma serra plantada com vinhas e ermedos de oliveiras,
cavou, semeou e tratou
e em seu tempo vindimou,
vergastou os rancos da azeitona, arrastou lenha para as fogueiras.

Tal como os sábios antigos, guardou o que comer e não o que fazer,
bebeu da água pura das fontes,
correu aldeias e montes,
logrou amor e inventou a paz dos dias e das noites para não sofrer.

Provou o fel dos cardos, lavou as lágrimas com a brandura do chão,
colheu amêndoas e figos
e foram os seus amigos
quem lhe deram os braços nas lides da terra e nas pegas do caixão " 

(Mário Anacleto)


Maofoto - Douro Vinhateiro, Valença do Douro

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