Douro Sublinhado
O Miradouro de São Leonardo é um dos mais espectaculares da região do Douro, situa-se na freguesia de Galafura, no concelho do Peso da Régua.
Com uma altitude de 566 metros, o Monte de São Leonardo tem um miradouro, dos mais bonitos com vista sobre o Douro. De onde, o grande escritor Miguel Torga, "mergulhava" no rio e nas paisagens deste "Doiro sublinhado", a quem, num dos seus "Diários" apelidou de "excesso da natureza". Neste Monte existiu um castro romano, governado por Galafre, que pode estar na origem do topónimo de Galafura. No Monte, formado por quartzo e sílex, encontram-se vários poços de extrações de minérios, explorados pelos romanos.
Do Miradouro, além das vistas sobre o Douro, também se avista, a região de Armamar, Tabuaço, Sabrosa e Valença do Douro.
Pedra com excerto da obra de Miguel Torga
São Leonardo, Padroeiro dos Presos Políticos
Miguel Torga in Diário IX
"À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando
S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade Sem pressa de chegar ao seu destino Ancorado e feliz no cais humano É num antecipado desengano Que ruma em direcção ao cais divino. Lá não terá vinhedos Nem socalcos Na menina dos olhos Deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz
Envelhecida: Rasos todos os montes, Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, e devagar que se aproxima Da bem-aventurança, É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho."
Ermida de São Leonardo
Miguel Torga in "Diários XII"
"O Doiro sublinhado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos comtemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou musico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silencio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a refletir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta."
Maofotos - Galafura 2021 |
1 comentário:
Lugar a visitar. Parabéns pelas fotografias.
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