quarta-feira, 30 de março de 2011

Assassinato de Sócrates IV

Continuação da crónica "O assassinato de Sócrates" do livro: "Crónica dos dias bons" de Mário Anacleto

"Useiro e vezeiros em acusações infundadas, em suspeitar de quem não os promove e os bajula, Sócrates acha que essas figuras de políticos incapazes estão permanentemente a convidar o cidadão a desembaraçar-se de escrúpulos, de usos e costumes que dizem embaraçar o desenvolvimento. O que pretendem é só sonegar aos cidadãos direitos essenciais à qualidade vida, direitos consignados em lei, serviços essenciais à permanente possibilidade de segurança individual e pública, estruturas de prestação de cuidados de saúde, apoios sociais, na penúria ou na desgraça, na falta de trabalho ou ocupações úteis à cidade. Com um à – vontade assustador são eles próprios que fogem e se desembaraçam de escrúpulos morais e de equidade para tudo praticar, segundo eles judiciosamente, com vista à detenção e uso do poder, de forma prepotente e nada de acordo com as mais profundas aspirações da plebe, da polis e do demos (o povo, a cidade e a circunscrição administrativa) cujo desenvolvimento e progresso deveriam ser a sua principal ocupação. Mas, para isso, falta-lhes o saber e o querer saber. Da única coisa que sabem é do seu egoísmo, esclarecido e quase sempre vitimizado, ao fazerem crer que se “sacrificam” pela administração da cidade. Nunca se acham responsáveis por uma penumbra de culpa do mal que acontece, que consideram sempre não terem pensado nisso antes, que nunca agiram de forma a que isso acontecesse, que as políticas que definiram iam exactamente em sentido oposto, que a conjuntura também pesa, que isto e que aquilo… saem pela porta pequena, mas na próxima oportunidade lá estão eles, de novo, a propalar que serão os melhores defensores da cidade! Sócrates sabe disso e da ingenuidade de quem os crê."

continua…

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