Crónicas ocasionais da Xicolândia
O caso mais popular, mais longo
e mais pendente de sempre é o caso pai do salvador. Este caso surge há mais
de dois mil anos, numa pequena aldeia (uma tal de nazaré) que se situava junto
ao mar (um tal de morto), ali para os lados das arábias onde vivia uma bela
jovem (uma tal de maria) ainda “virgem” (de agosto ou setembro).
Um dia, a
jovem (a tal “virgem”) teve um sonho. Sonhou que um príncipe das arábias (um
tal desconhecido) lhe entrou pela porta (e não só), levou-a ao tapete,
percorreu a terra, subiu montanhas, flutuou nas nuvens, chegou ao céu, viu as
estrelas, acabou na cama e desapareceu pela janela. O sonho foi tão real que
mesmo depois de a maria (a tal que era “virgem”) acordar, ainda continuou a
sonhar com o príncipe desconhecido (o tal das arábias) aquele que lhe entrou
pelas portas, levou-a a conhecer mundos e esfumou-se pela janela. Depois deste
sonho a jovem maria (a tal que já não é “virgem”) nunca mais foi a mesma. O
olhar vazio e distante, o físico presente mas de pensamento ausente, o corpo
sempre a mudar e passado o ciclo que terminava no período de tempo, não chegou,
estava grávida!
É precisamente aqui que este caso começa. A
jovem virgem (a tal maria) vivia em união de facto com um velho marceneiro (um
tal de zé), que por acaso tinha desarranjado a “ferramenta” num biscate.
Como naquela altura (tal como
hoje ainda), o pecado de adultério era um “caso” punido com apedrejamento até à
morte. A “virgem” maria (a tal jovem) engendrou logo um estratagema de forma a resolver
este seu triste “caso”.
Regular frequentadora do templo sagrado, um
dia em que reflectia sobre o seu triste caso foi atingida por um raio de luz
divina e teve uma visão (uma tal ideia). Tentar a via mais fácil, fazer com que
a “ferramenta” desarranjada do velho zé (o tal marceneiro) funcionasse pelo menos
mais uma vez. Nesse mesmo dia à noite resolve pôr em prática a sua grande ideia
(a tal visão). Apagou todas as luzes da casa e deitou-se completamente pelada
na cama à espera do velho marceneiro (o tal zé) que tinha ido beber um copo com
os amigos. O zé velho (o tal marceneiro), já com a vista “cansada”, deitou-se
na cama e nem se apercebeu que a mulher (a tal que já foi virgem) estava
completamente descascada, virou-se para o outro lado e adormeceu. Para grande
frustração da mulher (a tal maria) que passou o resto da noite em claro.
Na noite do dia seguinte tenta
uma nova abordagem. Desta feita, acendeu velas por toda a casa e deitou-se
nuazinha só com um véu, à espera do regresso dos copos do marceneiro (o tal
velho). Acontece que nessa noite, ele (o tal marceneiro) bebeu um copito a
mais. Quando entrou em casa ficou tão ofuscado pelas luzes que ficou
completamente “cego”. A mulher (a tal nuazinha só com um véu) aproveitou o
desnorteamento do velho (o tal da ferramenta desarranjada). Conta-lhe, que teve
uma visão em que lhe apareceu uma figura em forma de anjo, com asas de
“borboleta”, e lhe disse que ela tinha sido “eleita” pelos “deuses” para ser
mãe do “salvador” do mundo e que estava grávida. Também, tinham que deixar a
sua terra e partir para outras paragens porque inimigos poderosos iam fazer de
tudo para evitar a nascença do “salvador”. A maria (a tal que agora já é
senhora) foi tão convincente que o zé marceneiro (o tal com um copito a mais)
acreditou.
E assim de “burro”, passou a
andar de lado para lado com a senhora (a tal que já não era “virgem”), sem se
aperceber que era só para encobrir a gravidez. Entretanto, o tempo foi passando
e quando chegou a hora da maria (a tal senhora) dar à luz, fez-se luz e nasceu
o “salvador”. Precisamente numa noite em que um cometa (um tal de halley)
brilhava mais do que nunca nas suas muitas viagens à volta da terra. Logo visto
como um sinal dos “deuses” para iluminar o nascimento do “salvador” e tornar
credível a gravidez da senhora maria (a tal grávida) perante o velho zé (o tal
carpinteiro). Ainda mais credível ficou quando três “lunáticos” (um tal de
belchior) (um tal de baltazar) e (um tal de gaspar) que já há alguns dias
perseguiam o radioso rasto deixado pelo halley (o tal cometa). Pararam para descansar
no mesmo local (um tal estábulo) onde a senhora (a tal maria) tinha acabado de
dar à luz (o tal “salvador”). Eles próprios vivificaram que um nascimento
naquelas condições era digno de “deuses” e presentearam-no com o que levavam nos
bolsos, ouro, incenso e mirra. E “caso” encerrado!
Segundo a teoria de algumas
vizinhas mais “cuscas” (tal como na canção), pensa-se que o pai da criança foi
“obra” do patrão a dias da senhora (um tal de judas). Só que a mulher do patrão
(uma tal de judite) era muito ciumenta pois sabia bem o traidor (o tal de
judas) que tinha em casa, por isso, não tirava olho da senhora (a tal
“virgem”), não lhe dando qualquer hipótese de aproximação ou de estar a sós com
o judas (o tal traidor). Por isso o “caso” não morreu à nascença e ficou
pendente.
Este “caso” só voltou à “baila”
porque já espigadote, o “salvador” capta uma discussão da senhora com o velho
marceneiro e apercebe-se que afinal, aquele que ele considerava ser seu pai,
não o era na verdade. Parte de imediato para o deserto onde durante quarenta
dias e quarenta noites medita sobre a sua situação até que encontra uma
solução! A partir desse momento decide dedicar toda a sua vida, na busca da
verdade. Quem é o “pai”!
O tempo foi passando e o
“salvador” já entrado nos intas depois de muitos anos a penar na busca do pai,
começou a dar sinais de demência. Um dia, entrou eufórico numa cidade (uma tal
de jerusalém) a proclamar que era o novo rei. O verdadeiro rei (um tal de
herodes) sempre com problemas conjugais com a sua rainha muito ciumenta (uma
tal de Salomé) e que jurou se ele (o tal herodes) algum dia lhe fosse infiel,
ela mesmo lhe cortava a cabeça e a punha numa bandeja. Mandou-o logo internar
numa clínica psiquiátrica (uma tal de calvário) onde foi sujeito a um
tratamento de choque inovador, descoberto por um técnico especializado (um tal
de pilatos). O tratamento de choque consistia em cruxificar o paciente numa
cruz de cabeça para baixo, durante tempo indeterminado, na esperança que o
sangue fluísse melhor em direção ao cérebro e avivasse as ideias do paciente. O
tratamento (o tal de choque) foi tão eficaz que ao fim de três dias, o
“salvador” estava completamente curado e reabilitado. O facto levou inúmeros
curiosos até à clinica, inclusive um grande amigo do “salvador” (um tal de
tomé) que foi ver para crer.
Também, foi a última vez que o “salvador” foi
visto. Depois desse dia nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima. Há quem
diga que teve um caso com uma mulher da “ vida” (uma tal de madalena) por quem
se perdeu de amores. Fugiu com ela para um paraíso (um tal de eden) e por lá
viveu em paz e amor, a comer maçãs e a mulher da vida (a tal madalena). Até que
um dia, ela entalou-se com um bocado de maçã, o “salvador” quando a viu aflita,
aproximou-se por trás numa tentativa de lhe aplicar uma manobra (uma tal de
heimlich), mas, calcou uma cobra venenosa (uma tal de piton) que o mordeu e ele
(o tal salvador) e ela (a tal madalena) foram desta para melhor.
A história de vida do “salvador”
foi tão comovente, que um “primo” abastado da maria (um tal de pedro) mandou
erigir um grande templo em memória do “salvador”, e ele próprio, auto
proclamou-se o primeiro “pápá” oficial do “salvador”.
E este triste “caso” ficou na
“gaveta” por mais de mil anos. Até que alguém, ali na média idade começou
novamente a investigar e encontrou novas provas e um novo “pápá” para o
“salvador”. Ao que parece, era um banqueiro (um tal de espirito santo) que
tinha emprestado dinheiro ao velho marceneiro para arranjar a “ferramenta”, mas
a senhora é que pagava os “juros”. O “caso” só não foi encerrado porque uma
investigação mais profunda, deixou a descoberto o espirito do santo (o tal
banqueiro) que de santo espirito nada tinha, era dado a “eles” e não a “elas”.
Afinal quem “pagava” os juros era mesmo o zé (o tal marceneiro). E o caso
voltou novamente para a gaveta.
Já mais recentemente em pleno
seculo vinte, a gaveta voltou a ser aberta e o “caso” quem é o pai do
“salvador”, voltou à ribalta como das outras vezes em que apareceram novas
provas. Desta feita por uma outra “senhora” (uma tal de fatima) também “virgem”
(de maio). Esta outra “senhora” vivia em peregrinação (sempre de lado para
lado). Um dia, muito debilitada quase a desfalecer, cansada de tanto andar de
lado para lado, foi socorrida por três crianças (um tal de chico), (uma tal de
jacinta) e (uma tal de lucia) que lhe deram água e pão com que restabeleceu as
forças. Muito comovida a senhora (a tal “virgem” de maio) e como forma de
agradecimento, confidenciou aos ouvidos das três crianças um grande segredo,
que tinha ouvido de uma tia-avó francesa, uma eremita que vivia numa gruta (uma
tal de Bernardete), que por sua vez o tinha ouvido da sua própria tia-bisavó,
que também o tinha ouvido da sua tia-tetravó, que por sua vez também tinha
ouvido da sua…, quem era o verdadeiro pai do “salvador”.
Ao que parece a jovem
maria (a tal “virgem”), era abusada sexualmente pelo seu próprio pai… (um tal
de natal). Um velho alquimista de longas barbas brancas, toxicodependente,
snifava coca e cola. A sua grande “moca” era misturar as duas (a coca com a
cola) e beber. Gostava muito de criancinhas que aliciava com a bebida (a tal
coca com cola) e prendinhas. Quando viu o “caso” mal parado, resolveu pôr-se na
“alheta”, fugiu para uma terra longínqua (uma tal de lapónia) ali para os lados
do polo norte. Aí, dedicou-se à criação de renas, abriu uma empresa de
transporte de trenós e começou a distribuir a tal bebida (a coca com cola) por
todo mundo. O negócio foi tão rendoso que em pouco tempo amealhou dinheiro para
realizar um sonho de criança, construir o maior parque temático de diversões
para criancinhas, do mundo (um tal de natalândia). Ainda hoje há quem acredite
que o velho de barbas brancas (o tal natal) pelo menos uma vez por ano ande por
aí de trenó, a “oferecer” coca com cola (a tal bebida) e prendinhas às criancinhas.
E o “caso” só não fica desde já
encerrado porque, diz-se já por aí que existe uma prova fundamental para o
encerramento do “caso”, só precisa de ser encontrada. Um cálice “santo” (um tal
de graal)!
Segundo se consta transformava água em vinho, pelo qual o verdadeiro
pai do “salvador” (o tal que ninguém conhece) bebia nas suas muitas ceias. Foi
precisamente na última ceia que o cálice que era santo (o tal graal)
desapareceu. Parece que foi roubado por um ladraozeco alcoólico (um tal de
baco) e pelo seu primo também alcoólico (um tal de dionísio), que por sua vez o
venderam a um mafioso do submundo do crime (um tal de diabo). Um pecador de
primeira, ligado à prostituição, ao jogo ilegal e controlava todo o trafico lá
da zona. Ora matava alguém ali, ora começava uma guerra acolá um autêntico
demónio. Acabou por enterrar o cálice (o tal graal) que era santo, nas
profundezas do seu esconderijo preferido (um tal de inferno), local onde ninguém
ousou até hoje entrar.
Com a descoberta do graal (o tal
cálice) o caso podia finalmente ser encerrado, bastava para isso uma pequena
amostra de adn (um tal de ácido desoxirribonucleico), fazer um
teste de confirmação paternal e assim ficar este triste caso encerrado de vez.
Enquanto isso não acontece o caso continua pendente.
Este caso é pura ficção em todo o caso qualquer semelhança com um caso real é mero acaso.
Xico Mao
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