domingo, 9 de novembro de 2008

Purgatório - Viagem épica (Parte IV - Epílogo final)

Nota prévia:
"Para compreender esta narrativa, ao leitor são facultadas duas alternativas, ou lê isto, isto e isto ou então nem perca tempo com o que se segue. Se ainda assim preferir a tortura da leitura, aguarde pela versão compilada das crónicas desta odisseia ao purgatório, isto se entretanto a Santa Inquisição não eliminar o conteúdo deste escrito."
O purgatório é um mundo sombrio e medonho, no entanto existe também espaço para o lazer e para a diversão.
A marginal é o espaço de eleição para as almas noctívagas, uma espécie de 24 de Julho, onde proliferam bares, discotecas e casas de espectáculos, os inevitáveis arrumadores de almas também lá instalaram negócio.
Todo o ritmo de vida no purgatório está condicionado à vontade de Deus, ele é omnipresente e omnisciente, controla tudo a partir do céu com um comando de infravermelhos.


Ao nível dos espectáculos por exemplo, o fado, o canto gregoriano, os requiem e o trash metal são os únicos estilos admissíveis e espiritualmente tidos como aceitáveis.
Entrei num desses espaços e assisti a um dueto entre Amália Rodrigues e Freddy Mercury a interpretar o " Madame Butterfly".
Num outro espaço ainda mais terrível, actuava o grupo "Almas Anónimas", que levava ao êxtase orgiástico, dezenas de almas perdidas no tempo e no espaço, tudo perante a mais singela contemplação de Deus magnum excelsior.
Deambulei mais um pouco pelo submundo da noite purgástica, o alucinado D.Quixote pedia moedinhas para as anfetaminas, só com recurso a este expediente consegue manter o equilíbrio necessário para combater moinhos de vento.
Beethoven e Mozart vão trauteando acordes para uma nova sinfonia, "O dia do juízo final".
Jonh Lennon e George Harrison aguardam por Ringo e McCartney para se fazerem à estrada com a nova tourné "Imagine Tour".
Pavarotti foi banido desta região e enviado para o inferno. A sua voz perturbava o eterno descanso das almas.
Ao longe no horizonte, por entre os primeiros raios da aurora (no purgatório o mundo gira ao contrário) estava fundeada a armada de Vasco da Gama.
O navegador Português foi quem descobriu o caminho maritimo para o purgatório depois de ter dobrado o cabo das tormentas.
Vasco da Gama prepara já uma nova expedição, cujo objectivo é encontrar o caminho maritimo para o Céu, mais uma vez terá que contar com a concorrência de Cristovão Colombo, para concretizar tão almejado desígnio.
Existe uma corrente teocêntrica bastante controversa, que faz a defesa do direito das almas, na opção pelo caminho mais rápido para o Céu. O caminho terreno actual, inviabiliza qualquer possibilidade de uma alma seguir a sua derradeira viagem para o Céu, sem ter que passar primeiro pelo purgatório.
Preparo agora a despedida deste mundo surreal, com algumas estrofes da nova música da alucinogénica Xana:

Entre as memórias e o sonho
"Vivo entre as memórias e o sonho,
num mundo paralelo à realidade!
Onde tudo é tão fantástico e medonho,
bom demais até, para ser verdade."

"Num mundo onde o tempo é tão veloz,
me leva numa dança sem sentido,
num rodopio de cores extraordinárias!"


Já preparava o meu saudoso regresso ao stress da vida terrena, quando algo de fantástico me acontece; dou de caras com a alma de Lara Croft, versão Angeline Jolie, vestida com requinte, em traje de lingerie.
Tomado por um forte impulso esponjónico, agarrei-me ao que Lara tinha de melhor...
CABRUUUUUUMMMMM!!!!
PUUUUUUUUUUUUUM! BOUUUUUUUUUUUUMMMMMMM!!!...............
(...) Silêncio...dois agentes da secreta do Vaticano, a Inquisição, conhecendo a parte mais fraca do meu espírito, tinham armadilhado a boneca. A minha alma acabou sendo projectada para o Inferno.
Já no Inferno, consegui juntar todos os pedaços da minha alma fragmentada e ressuscitei para a vida…
O Inferno é um lugar onde a inovação tecnológica está mais além. Foi de lá, tal como o Magalhães que circum-naveguei até vós, em banda larga gratuita.
Das virtudes do purgatório, nunca ninguém regressou, a nado ou de navio para relatar a sua história.

FIM


Nota Final:

" Agradeço a todos os que manifestaram as suas opiniões positivas ou negativas acerca desta narrativa. Isso também nos ajuda como humanos a moldar o carácter e a eliminar os preconceitos obscurantistas e incontestáveis que sempre nos quiseram impor.
A rábula não pretende atacar nenhum sector religioso em particular, mas a forma como tentam limitar e castrar o pensamento e o raciocínio livre."
Um abraço fraterno, desde o Inferno, para a vida mundana terrena!

1 comentário:

Guilherme disse...

Lindo texto. Venham mais!